Claudio Edinger, um dos mais importantes fotógrafos do Brasil...

Claudio Edinger, um dos mais importantes fotógrafos do Brasil, nasceu em 1952 no Rio de Janeiro, filho de pai alemão e mãe russa. Reconhecimento internacional e incontáveis prêmios, do calibre do Prêmio Hasselblad, Prêmio Abril de Fotografia, One of The Year's Best Books (revista American Photo por Old Havana) e Prêmio Ernst Haas, acompanham esse fotógrafo pela grandiosidade e sensibilidade impressionantes em seu trabalho.

Bastante acostumado a expor em diferentes galerias ao redor do mundo, dentre elas no Maine Photographic Workshop, EUA; International Center of Photography, EUA; Galeria Arte 57, São Paulo; Casa 11 Foto, Rio de Janeiro e Photographer's Gallery, Londres; atualmente vive em São Paulo e, mesmo com a correria decorrente do trabalho e da abertura de sua mais recente exposição, Machina Mundi NYC, na Galeria Lume, que acaba de acontecer, Claudio Edinger reservou um tempinho para um bate papo rápido e delicioso com a DOMI que você precisa conferir..


Quem é Claudio Edinger? Tenho absoluta certeza que todos esses adjetivos maravilhosos recebidos ao longo dos anos, através inúmeros artigos e reportagens sobre você, dentro e fora do país, lhe fazem jus perfeitamente. Mas como você se definiria?
 
Sempre acreditei que todos temos extraordinárias possibilidades, somos o universo encapsulado em um indivíduo. Todos somos isso. Descobri que tinha temperamento de artista bem cedo. Com dez anos de idade fiquei de castigo no colegio Rio Branco em SP. Tive que escrever cem vezes no quadro negro que dali em diante iria me comportar bem. Comecei a escrever e de repente mudei a letra, mudei o tamanho, praticamente fiz uma instalação, cada repetição de um jeito. Na hora não me dei conta mas anos depois percebi que ali surgiu minha necessidade de criar, de descobrir até onde vão nossos limites, descobrir todas as possibilidades de um ato, de uma criação. Pratico meditação há mais de 45 anos, está tudo relacionado com o que faço. Sou isso, só mais um que não se conforma em ser apenas mais um. 


O que exatamente você faz ou no que consiste o seu trabalho hoje?
 
Meu trabalho é de pesquisa. Gosto de comparar a fotografia à medicina. Temos fotógrafos cirurgiões, clinicos gerais, oftalmologistas, etc. Eu adoro pesquisar estudar, procuro a cura para doenças incuráveis — que em filosofia é a tentativa de descobrir quem somos e que raios estamos fazendo aqui, nesta bola giratória, imensa mas que é uma partícula comparada com os outros planetas, flutuando no espaço.


Por que escolheu a fotografia como forma de se expressar? Fale um pouco sobre suas influências e inspirações
 
Desde menino li muito. Adoro ler, passei a adolescência lendo os clássico, criando fotogramas do que lia. A arte fotográfica é pura terapia, extraímos segredos de nosso interior que, confrontados por nós mesmos, nos curam. A fotografia tem esse poder. O tempo destrói todas as coisas. A fotografia é o antídoto.

Como foi seu caminho para chegar até aqui? Olhando para trás, além das suas conquistas e satisfações, quais foram seus grandes desafios?
 
Com 23 anos de idade mudei-me para Nova York. Tinha acabado de expor meu trabalho no MASP. Por que não levar o trabalho para expor lá? pensei. Não falava direito a lingua, não conhecia ninguém só sabia que queria fotografar. E fotografar o que eu quisesse, onde meu instinto me levasse, sempre tive dificuldades em obedecer os outros, sempre fui muito rebelde, pelo menos quando era jovem. Este geralmente é o tempramento arisco de um artista. Fiz trabalhos comerciais e estes foram muito úteis, serviram como laboratorio para colocar meus experimentos em pratica. O artista navega num mar de imprevisibilidades e isso sempre me motivou. Quanto maiores as dificuldades mais motivado eu fico. Claro diversas vezes fiquei desanimado. Tive momentos de grande aperto em Nova York. Morei no Hotel Chelsea dois anos sem pagar aluguel — dava fotos em troca para o dono do hotel.  Isso até publicar meu primeiro livro e conseguir trabalho para as revistas americanas.

Qual o conselho que você daria para alguém que está em início de carreira? Se você conseguisse resumir todo o aprendizado ao longo de sua carreira, em uma, duas ou três sugestões que gostaria de ter recebido quando era mais jovem, quais seriam essa(s) sugestão(ões)?
 
Estude muito. História da arte, da fotografia, poesia, literatura, música clássica. Pesquise muito, sempre. Produza muito. Entenda que a fotografia é muito ciumenta, não gosta de rivais. Exige total dedicação. Digo sempre que o fotógrafo é um gorila. Não adianta colocar uma fantasia numa girafa que ela não vira gorila. Ou se nasce ou não é. O jovem fotógrafo precisa resolver esta questão no início. Sou ou não fotógrafo? Se a respota for sim então esqueça o resto, saia para fotografar até encontrar seu rumo na fotografia. Vai aparecer. Converse muito com outros fotógrafos, mostre seu trabalho, esteja sempre aberto às críticas. Saiba quais críticas servem quais não. Quando fiz o livro sobre o Chelsea Hotel muitos fotógrafos me desencorajaram — "isso nunca vai virar um livro" diziam. Segui em frente porque acreditava nele. É preciso também entender que a fotografia é uma força da natureza, tem poder próprio. Se vc se alia a ela, ela cuida de vc, te dá ideias, te dá trabalho, a mágica entra em ação. Goethe diz que quando seguimos o coração, o universo conspira a nosso favor. Eu sou prova absoluta disso. 

Onde mais deseja chegar? Tirando todo esse legado que ficará no mundo para sempre, com esse trabalho incrível, sensível, generoso,... para onde mais seu coração de artista anseia te levar? Fale um pouco sobre algum grande sonho ou objetivo que deseja alcançar
 
Procuro o limite, a curva da Terra, onde nascem as nuvens, onde as estrelas se acendem. Quem faz meditação está à caça disso. Sabendo claramente que não há limites, que o mistério não tem solução. Quanto mais se descobre mais denso fica. Adoro isso. Adoro aprofundar a pesquisa. É só o que eu sei fazer. Não tenho um objetivo numérico. Meu objetivo é espiritual. Quando mais nos aprofundamos em qualquer coisa, mais descobrimos a essência do Universo. Não consigo imaginar qualquer outra forma de viver. Não trabalho, tudo o que faço, faço por imenso prazer. Quanto mais vc faz, como numa maratona em que fica facil correr, mais prazeirozo fica fazer, mais articulado vc fica. Tolstoy diz que sem saber quem somos é impossivel viver. Vivo em busca disso.
 
 
 
 
Para conhecer mais o trabalho do fotógrafo:  www.claudioedinger.com