Claudia Seber e suas incríveis esculturas que ressignificam materiais

Esse mês a DOMI teve o imenso prazer de coversar um pouco com a multitalentosa Claudia Seber.

Arteterapeuta, designer de jóias e Terapeuta Ocupacional de formação, atuando há mais de 20 anos no ramo da joelheira autoral, tendo se dedicado simultaneamente à criação e produção de jóias, adornos e ao ensino técnico das mesmas.

Suas esculturas surgiram com a ideia de mesclar a técnica da joalheria e o refugo da produção de joias, a diversos e inusitados tipos de metais recolhidos aleatoriamente pelas ruas e caçambas da cidade de São Paulo, como o vidro, mármore, madeira, enfim todo e qualquer material...

Mesmo com diversas coisas acontecendo ao mesmo tempo, tirou um tempinho para conversar conosco!

 

Quem é Claudia Seber? me fale um pouco mais sobre vc, sua personalidade e seu encontro com a Arte?

Sou uma mulher madura e com alguns cabelos brancos que a cada manhã busca fazer da  vida a realização dos meus ideais pessoais e humanos. Filhas criadas, casa “arrumada” e trabalhando em meu atelier exerço minha personalidade inquieta, ávida por conhecimento e exigente em tudo que faço. Amante da natureza, de esportes, de viagens inusitadas, de biografias...encontro-me e recarrego-me em minha solitude mergulhando nesse mundo paralelo e complementar ao meu trabalho.

Quaisquer que sejam nossos Encontros, profissionais ou não, eles são os caminhos que nos alçam ao mundo e materializam nossa marca indelével. O Encontro com a Arte exigiu de mim amadurecimento, estudo, persistência e paciência após 20 anos atuando como designer de joia e outros tantos como Terapeuta Ocupacional.

Quando enfim vi-me projetada e realizada em meu trabalho como artista, minha vida  revelou-se bastante compreensível em meus caminhos e descaminhos...


Podemos perceber que vc é uma artista multi talentosa ou de várias faces, que trabalha em vários campos da arte ao mesmo tempo... O que exatamente vc faz ou no que consiste o seu trabalho hoje?

Minha pós-graduação em Arte-terapia com base na Psicologia Analítica foi algo que me acrescentou para minha compreensão acerca da Arte enquanto processo simbólico e subjetivo. Depois de anos atuando como designer de joias, trabalhando na bancada e ministrando aulas comecei a criar esculturas reciclando materiais da oficina e prioritariamente com toda sorte de metais encontrados pelas ruas.

Mantendo concomitantemente a produção de joias, embora de forma mais restrita, intensifiquei a criação das esculturas, únicas e conceituais, com bastante afinco. Participei de exposições, concursos e atualmente trabalho na elaboração de um Centro de Arte e Criatividade onde pretendo ministrar aulas e workshops. Sou amante de fotografias e arrisco-me na escrita com a elaboração de histórias infantis e textos em geral. Ambas as atividades exigem observação, introspecção e desprendimento. Um exercício diário no trabalho como artista.

 

Cada artista tem um processo criativo diferente ou bastante particular. Fale um pouco sobre seu processo de criação, suas fontes de inspiração e sua relação com cada obra.

Meu processo de criação e inspiração começa no questionamento e na observação dos mundos material e subjetivo. Dele fazem parte as pessoas, os sentimentos, a natureza e as relações humanas. Paralelo a isso me dedico a recolher pelas ruas e receber todo tipo de sucata prioritariamente metálica que normalmente se destinaria à reciclagem. Uso então a palavra “ressignificação” material ao destinar os metais para a produção das esculturas. Todo material da joalheria, tais como pedras, entremeios, correntes, etc, também são utilizados.

Traduzir a vida e nossa bagagem emocional, técnica e conceitual em Arte é imprimir nossa marca no mundo. Cada escultura advinda de um conceito ou mesmo de sua forma particular, encerram uma história e uma intensão. Emocionar e provocar a imaginação do observador é algo que sempre tenho em mente. Se não houver emoção e verdade naquilo que criamos, jamais atingiremos quem as contempla. Cada obra é a tradução desse meu pensamento.

 

Um artista é sempre um artista, independentemente de qualquer rótulo que possam vir a lhe colocar, correto? Mas gostaria de saber de vc sobre a mulher artista. Vc acha que a artista que vc é hj em dia e sua 
produção artística tem relação com o universo feminino ou, de alguma forma, é do jeito que é pelo fato de vc ser mulher ou isso não tem qualquer relação para vc?

Rótulos nos engessam em quaisquer circunstâncias mas ao mesmo tempo nos situam no mundo. O exercício constante de equaliza-los à nossa Alma, nossa individualidade e nosso trabalho é um desafio enorme. Isso se dá com a Arte, pois criar é lançar-se ao mundo. Diria uma auto expressão a serviço do outro.

Homens e mulheres, somos todos constituídos de energias masculina (ação/enfrentamento) e feminina (continência/acolhimento). Sou uma mulher bastante feminina na forma de expressar-me e criar, embora a execução das esculturas e o uso do próprio metal em si sejam mais da esfera masculina. Ser mulher, ter duas filhas, duas irmãs e uma mãe bastante assertiva, fizeram toda diferença na minha vida profissional. Compreendo a força do feminino porque a vivo a cada dia. E dela só posso dizer que traz em si um poder gerador e transformador inigualáveis.


Como foi seu caminho para chegar até este momento? Olhando para trás, além de suas conquistas e dos seus acertos, quais vc diria que foram ou ainda são seus grandes desafios enquanto artista? Quais vc diria que são as grandes dificuldades que um artista enfrenta nos dias de hoje?

Meu caminho foi sinuoso e cheio de atalhos.  Qualquer forma e qualquer um que eu tivesse escolhido teriam me conduzido exatamente para onde estou. Acertos e erros são apenas o quanto de tempo levamos para amadurecer e abraçar a vida com as próprias mãos e encontrar-se realmente no que fazemos e como fazemos. Demorei em chegar e minha intenção não é partir. É ficar e persistir.

Desafios? Ser cada vez melhor naquilo que faço e crio. Estudar, ler, conhecer, produzir e sentir o retorno do mundo ao meu redor.  Estruturar meu Centro de Arte e Criatividade. Colocar meu trabalho a serviço de um mundo melhor e mais humano.

A grande dificuldade de um artista, hoje e sempre, é antes de tudo reconhecer-se como tal e desvincular sua criação de um reconhecimento imediato e meramente financeiro. Como em qualquer profissão precisamos ter paciência, persistência e acima de tudo muita verdade e doação naquilo que fazemos. Decorrente disso talvez esteja o caminho do crescimento e do reconhecimento. Parcerias e bons encontros são fundamentais.

 

Qual conselho que vc daria para alguém que está em início de carreira? Se vc conseguisse resumir todo o aprendizado ao longo de sua carreira, em alguma(s) sugestão(ões) que vc gostaria de ter recebido 
quando era mais jovem, quais seria(m) essa(s) sugestão(ões)?

Li recentemente uma frase que resume minha resposta: ”Onde quer que você esteja, este é seu ponto de partida”.

Onde vc quer chegar ou qual seu grande sonho ou objetivo para sua carreira?

Não sei o que há depois da curva, mas descobrirei...

Quero ser reconhecida como uma escultora que traduz a vida em uma linguagem estética, mais digerível e apreciável. Que faz Arte de forma silenciosa, ecumênica, bela e apartidária.

Atualmente meu sonho é realmente estruturar um Centro de Arte e ensinar meu trabalho de criação das esculturas que alia metalurgia, joalheria, trabalho com vidro, fixações, etc. E propiciar que a Arte enquanto processo possa ser um meio de tornar-nos pessoas melhores, mais confiantes e com mais solitude.

Esse projeto exige tempo, dinheiro e parcerias. E hoje este é o meu ponto de partida.

 

Para conhecer mais o trabalho da artista entre aqui